Mother Love – A gravação original por trás das regravações do Queen

Contrariamente ao que aparece no filme Bohemian Queen, o Freddie Mercury nunca falou explicitamente aos demais membros do Queen que estava com AIDS, muito menos antes do Live Aid. Embora os demais membros já ouvissem boatos e, provavelmente, fossem percebendo e desconfiando do fato, pelos problemas de saúde que o Freddie começou a apresentar, fato é que, somente nos últimos anos de vida, acredito que por volta de 1988, é que o Freddie, segundo Brian, sentou com eles e disse: “Olha, vocês provavelmente sabem o que vou dizer, sabem do que estou sofrendo, sabem qual é o problema. Mas não quero falar mais disso. Só quero fazer música até o dia em que eu morrer. Vamos seguir em frente.” E pediu para que os demais membros dessem todo o material que pudessem para ele gravar e deixar para o público.

A partir daí, os demais membros da banda, particularmente Brian e Roger, atendendo ao pedido do Freddie, começaram a compor o máximo de músicas para o Freddie gravar. Eu diria que as mais especiais são aqueles em que eles se colocaram no lugar do Freddie, expressando o que, possivelmente, ele estava sentindo ou passando, como The Show Must Go On (Brian), These Are the Days of Our Lives (Roger) e Mother Love (Brian).

Mother Love é, pra mim, uma música especialmente triste, não apenas pela letra, mas, principalmente, por ter sido a última música gravada pelo Freddie. Mais triste ainda é saber que ele não conseguiu terminar de gravar a música. Como contado pelo Brian, após mais uma sessão de gravações, em maio de 1991, Freddie disse que precisava ir embora e descansar, mas que voltaria depois para concluir a música. Mas nunca mais voltou. Por isso, Brian é quem canta o último e triste trecho da música:

My body’s aching, but I can’t sleep
My dreams are all the company I keep
Got such a feeling as the sun goes down
I’m coming home to my sweet
Mother love

Fiquei extremamente emocionado de ter estado exatamente no lugar onde o Freddie gravou seus últimos vocais em Mother Love, no Mountain Studios, em Montreux. Atualmente, esse lugar fica dentro do Queen Studio Experience, na sala de edição, e está marcado com uma placa dourada no chão:

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Infelizmente, muitas pessoas entram no estúdio, passam por cima da placa e nem se tocam do que é aquele lugar tão especial.

Enquanto o Freddie estava ali gravando os vocais, tomando vodca para suportar as dores que sentia em decorrência da AIDS, o Brian ficava numa sala ao lado, tentando compor mais estrofes para dar ao Freddie para cantar.

Mas, o ponto central desse meu post é a gravação da música em si. Após o último trecho cantado pelo Brian, a música é tomada por antigas gravações do Queen, começando com o Freddie ao vivo em Wembley fazendo sua tradicional brincadeira vocal com o público, seguido por trechos do One Vision e Tie Your Mother Down, e com efeito como se uma fita cassete estivesse sendo rebobinada para trás, dando impressão de uma volta ao tempo, terminando com um trecho de Goin’ Back (de Gerry Goffin e Carole King), primeira música gravada pelo Freddie, com o codinome de Larry Lurex, em 1973. Nesse trecho, a letra justamente diz “I think I’m going back to the things I learnt so well in my youth” (“eu acho que estou voltando atrás para as coisas que eu aprendi tão bem na minha juventude”), encerrando a música com um choro de bebê, como que completando a volta no tempo até o amor de mãe.

Esse trecho pode ser ouvido no vídeo a seguir:

A questão é que, como se pode perceber, os trechos de gravações antigas que aparecem no final da música se sobrepõem a tudo mais e, simplesmente, não se ouve mais o que seria a continuação da música por trás dessas gravações. Mas, como fui no Queen Studio Experience, tive a oportunidade de ficar mixando essa música, o que fiz muitas e muitas vezes 😀 Em uma delas, o que fiz foi, justamente, excluir as gravações antigas do trecho final e mostrar o que é a gravação original da música que há por trás. Embora esse trecho possa não ser nada excepcional, para mim foi um momento mágico poder ouvir esse trecho “escondido”, o que fiz como se desenterrando uma pedra preciosa. Para quem quer curtir, aqui está essa pérola:

That’s all folks.

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