Das melodias subconscientes e dos autoplágios

Quem curte muito música e, principalmente, ouve muita música, obviamente vai formando uma biblioteca musical na memória que aumenta continuamente. Pra quem é músico, então, nem se fala.

Mas tem uma questão que acho muito interessante, que é quando se é compositor (o que, infelizmente, não é o meu caso – pelo menos até agora….). Vivendo num emaranhado de sons e melodias de músicas que vamos ouvindo ao longo da nossa vida, como saber o que é original, criação própria, e o que é resquício de alguma melodia já ouvida anteriormente e que ficou armazenada no subconsciente?

A primeira vez que essa questão surgiu pra mim foi em uma troca de mensagens pela internet que tive com o Will Prestes, compositor, vocalista e guitarrista da minha queridíssima e saudosa Wonkavision. Em 2006, no show que fizeram no Festival Loud, no Rio de Janeiro, a Wonka tocou uma música nova, chamada Tanto Faz. Assim que comecei a ouvir a música, me bateu aquela sensação forte de “eu conheço essa música de algum lugar”. A parte da música é essa, nesse vídeo exatamente desse show no Festival Loud:

 

De cara adorei a música e a letra. Mas aquela sensação de “déjà écouté” não saía da minha cabeça, mas não descobria de onde vinha. Só depois do show, depois de muito martelar, me toquei que aquela melodia estava me lembrando é de Zodiacs, ícone da dance music dos anos 70, gravada pela Roberta Kelly:

Então, voltando à troca de mensagens com o Will, comentei com ele como Tanto Faz me lembrou de Zodiacs. O Will falou que nunca tinha percebido e que justamente algumas melodias deviam ficar no nosso subconsciente e, sem perceber, acabavam vindo à tona em uma nova canção.

Acho que justamente pra diminuir essa impressão, a versão de estúdio oficial da música foi um pouco desacelerada, se distanciando mais do ritmo de Zodiacs:

E, como não podia deixar de falar de Queen, tenho justamente dois exemplos que, pra mim, corroboram a tese do Will. Só que, nesse caso, quem “revisitou” a melodia original gravada pelo Queen foram os próprios integrantes da banda, mas em trabalhos solos deles.

O primeiro caso é bem mais fácil de perceber e se trata de um pequeno trecho do solo de guitarra do Brian May em Let Me Out, do primeiro álbum solo dele, Starfleet. Tenho a clara impressão de que, na hora em que o Brian foi fazer o solo, aquela melodia simplesmente ressurgiu naturalmente na cabeça e nos dedos dele.

 

Reconheceram? Acredito que sim. Aí vai a versão original 😀

 

O segundo caso é de Let’s Turn It On, música do primeiro disco solo do Freddie, Mr. Bad Guy. Talvez nem pareça tanto. Mas, em um determinado trecho dessa música, Freddie canta “all you people get together”:

Eu nunca tinha associado essa música com a “original” até que estava ouvindo só os vocais do Freddie em uma outra música conhecida do Queen, que também fala de “all you people”, e que, aí sim, me fez lembrar daquele trecho de Let’s Turn It On.

Só pra não deixar de falar também do Roger Taylor, em trabalho solo ele também revisitou coisas do Queen, na excelente música Shove It, do álbum de mesmo nome do The Cross, banda dele. Mas, no caso do Roger, foi totalmente proposital e, mais que isso, ele pegou trechos das gravações originais do Queen, o que ficou totalmente foda! 🙂

 Vi skrives! _.

 

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