O momento único de uma gravação

No meu antepenúltimo post, falei sobre ter descoberto que a voz do Freddie Mercury na música In My Defence é a gravação do primeiro take, e como isso tornou a música mais especial pra mim, por imaginar que, já na primeira tentativa, o Freddie foi tão perfeito que este primeiro momento foi o que ficou registrado para sempre.

Isso tem tudo a ver com um tema que há muito tempo já planejava escrever pra esse blog, que é o momento único de uma gravação. Talvez hoje em dia isso tenha se perdido mais, porque, com os Pro Tools da vida, os artistas podem ficar praticamente gravando palavra por palavra, acorde por acorde, depois juntar tudo e ter uma música.

Fato é que, quando a música está pronta, parece que a gente perde a noção de que aquela música foi gravada em um determinado dia, num determinado momento, que poderia ser um qualquer, caído no esquecimento, mas que acaba sendo eternizado em uma gravação. Talvez por isso eu goste de músicas que deixam transparecer que aquilo foi uma gravação em um dia comum, que poderia nem ter dado certo.

Acho que a primeira vez que isso me chamou a atenção foi no início de Inútil, do Ultraje a Rigor, quando o Roger diz: “Vou cantar tudo de novo?”. Embora me pareça que essa fala talvez nem tenha ocorrido na gravação de Inútil, fato que é um registro daquele momento em estúdio, com a banda gravando aquele disco.

Outra música dos anos 80 que sempre me chamou a atenção por esse tema foi Cenas Obscenas, da banda Metrô, uma das minhas favoritas da época, cujo primeiro disco, Olhar, é um primor, daqueles raros discos que são bons da primeira à última música (e que espero ver ao vivo, agora que a banda voltou com a formação original). Voltando ao tema, no final de Cenas Obscenas, dá pra ouvir uma intervenção totalmente inesperada na gravação. Sempre tinha entendido que alguém falava “valeu”. Mas, justamente com a volta do Metrô, resolvi tirar a dúvida diretamente com a Virginie Boutaud, vocalista da banda. Segundo ela, o que ficou na gravação não foi alguém falando “valeu”, mas, sim, a própria Virginie falando “alô” no telefone, na gravação da voz guia, e que acabou ficando na gravação. O trecho é esse:

Pra ouvir a música inteira, recomendo esse vídeo 🙂

Outro trecho já antigo e que sempre achei interessante é de Midnight Voyage, do The Mamas & The Papas. No meio da música, ficou o registro de um erro na hora de fazer o vocal. Eles tentam mais uma vez e novamente erram. Aí aparentemente acertam e a música segue até o final.

Mais um exemplo deste momento único da gravação é o início de Versos Simples, música linda da banda gaúcha Chimarruts. Logo no começo, a vocalista, Tati Portela, parece pedir para quem toca violão esperar um pouco, aparentemente porque queria alguns segundos a mais pra se preparar pra começar a gravar a música.

Pra terminar, quando resolvi postar esse blog, dei uma pesquisada e encontrei um post interessantíssimo sobre justamente erros em gravações de grandes artistas internacionais, que vale a pena ler inteiro aqui. Das gravações citadas no post, vou só citar uma que achei muito legal. Logo bem no início da gravação de Roxanne, do Police (aos 0:05 do vídeo abaixo), dá pra ouvir um acorde de piano desafinado e nada a ver com a música, seguido de uma risada do Sting. Segundo o site, na hora de gravar a voz, o Sting, sem querer, se apoiou no piano que tinha no estúdio e tocou aquele acorde estranho com a bunda mesmo, e aí começou a rir. Sabe-se lá por que também, isso foi mantido na gravação final.

That’s all, folks!

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