Bohemian Rhapsody: esclarecendo histórias do filme

Após tanto tempo sem postar (mais de um ano), por total falta de tempo, em um ano hiper corrido, o que mais me faria voltar a escrever, mesmo ainda estando na correria, se não o Queen?? Claro, não consegui ficar sem escrever sobre o lançamento do filme Bohemian Rhapsody, biografia do Freddie Mercury e do Queen, produzida pelos integrantes da banda.

Após meses de espera (ou anos, se considerarmos desde que o projeto do filme foi iniciado, com vários percalços ao longo do período), finalmente chegou a data de lançamento do filme! Infelizmente, não consegui ir no dia da estreia, mas fui com a Love of My Life no segundo dia em que o filme estava em cartaz e acabei de ver de o filme pela segunda vez.

Como não podia deixar de ser, amei o filme! Como não amar um filme, produzido pelos membros da banda, contando histórias da banda e, acima de tudo, tocando Queen o filme todo??? Impossível! Um bom exemplo de como o filme foi bom foi que, ao final da sessão de hoje, o público bateu palmas, como no final de um show excelente, como realmente foi o filme!

Mas, apesar das várias histórias do Queen apresentadas no filme, claro que o tema central é a história do Freddie Mercury, principalmente seus conflitos internos (sua origem indiana, o homossexualismo) e a solidão que o acompanhou ao longo da vida. E acho que é nesse aspecto que a atuação do Rami Malek foi mais marcante. Acho que ele incorporou e transmitiu muito bem os sentimentos do Freddie. Aliás, como o filme tratou desses traumas internos do Freddie, acho que poderia ter explorado a vergonha que o Freddie sentia de seus dentões, o que o fazia colocar a mão na frente da boca sempre que dava uma grande risada. No filme, isso passou em branco.

Mas, queria escrever um pouco sobre as coisas que mais gostei do filme e, também, comentar sobre coisas que acho que vale esclarecer, principalmente para quem não conhece tanto a história do Queen.

A primeira coisa incrível do filme é, já de cara, a abertura do filme com o tema da 20th Century Fox tocada pelo Brian na guitarra. Simplesmente é uma obra-prima. Impossível ouvir isso e não dizer: “o Brian é o cara!”

Depois, meus momentos mais arrepiantes no filme foram ouvir Love of My Life (apresentada no momento do Rock in Rio) e quando tocou Who Wants to Live Forever… De arrepiar dos pelos até o osso.

Uma muito feliz surpresa que tive (pelo menos eu não sabia disso) foi a participação do Mike Myers no filme, como Ray Foster (que, aliás, não existe)! Já tinha visto vários trailers do filme e nunca tinha me tocado que era ele. Só no filme que percebi! Genial! Tudo a ver, por ele ser fã e ter feito, com seu Wayne’s World, Bo Rhap ter virado número 1 nos EUA tantos anos após a morte do Freddie, além de ser um ator genial. Aliás, sacada genial foi justamente ele dizer que acreditava que Bohemian Rhapsody não era uma música com a qual a garotada fosse ficar balançando suas cabeças no carro quando a ouvisse… Genial de novo!

Também gostei muito de terem dado atenção à máxima do Zoroatrismo (religião da família do Freddie): “bons pensamentos, boas palavras, boas intenções”. Tanto acho perfeita que tento segui-la e, desde que aprendi essa máxima, em uma biografia do Freddie, ela está no meu perfil no facebook (“Humata, Hukhta, Huvarshta”).

Mas, um ponto especial que curti do filme foi a atuação do ator Gwilym Lee no papel de Brian May. Além de ter ficado o mais parecido de todos, até a voz ficou igual à do Brian! Achei que o Joseph Mazzello ficou muito bem como John Deacon, com a mesma cara de bonachão. O Ben Hardy achei que não ficou tanto, mesmo com a tentativa dele de fazer uma voz mais rouca estilo Roger. O Rami Malek tinha o papel mais difícil, claro, e incorporou brilhantemente o Freddie, como já comentei antes.

Também vale mencionar a perfeição do Dermot Murphy no papel de Bob Geldof! De cara, parece até que é filmagem original, de tão parecido que ficou!

Agora, por outro lado, achei que o filme apresentou mais ficção do que eu imaginei que teria. Não que as histórias não sejam baseadas na história do Queen e não sejam emocionantes, mas várias coisas no filme não existiram, ocorreram em outro contexto ou foram contadas fora da ordem cronológica. Entendo que isso deve ter sido feito para poder dar coerência à história do filme. Por isso, nada disso tira seu brilho! Mas, como sei que é comum as pessoas verem um filme e acreditarem que o que aparece é exatamente como ocorreu na realidade, fiquei com vontade de comentar sobre algumas imprecisões do filme, apenas para que sejam consideradas.

Exemplos de fatos que realmente ocorreram, mas que foram apresentados fora de ordem cronológica ou fora de contexto:

  • Logo no início do filme, ao final do show, o Tim Staffel anuncia aos demais membros da Smile (banda anterior da qual participavam o Brian e o Roger) que está saindo para participar de uma outra banda, chamada Humpy Bong. De fato, isso aconteceu. Porém, não foi nesse momento que Freddie se apresentou ao Brian e ao Roger como vocalista e se ofereceu para entrar no lugar do Tim Staffel. Na verdade, o Freddie já era amigo dos membros da Smile, porque era colega do próprio Tim Staffel no curso de desenho e artes gráficas no Ealing Art College. O Freddie, então, já acompanhava a carreira do Smile e, inclusive, dava sugestões para a carreira da banda. Então, quando o Tim Staffel decidiu sair da banda, a entrada do Freddie era algo, de certo modo, natural.
  • O Freddie começou a usar apenas a parte de cima do microfone realmente após a base do microfone se soltar no meio de um show. Mas isso não ocorreu em um show do Queen, mas, sim, da Wreckage, banda da qual o Freddie participou antes do Queen.
  • As primeiras gravações do Queen no estúdio não foram compradas com venda de nenhuma van, mas, sim, foram conseguidas em troca dos serviços de manutenção prestados no Trident Studios pelo John Deacon (lembrando que ele é engenheiro eletrônico). Pelo trabalho, o Queen podia usar o estúdio durante a madrugada, quando ninguém mais estivesse gravando lá.
  • O Freddie não estava mais com a Mary quando o Queen tocou no Rock in Rio. Na verdade, Freddie já havia contado a ela sobre sua bissexualidade quase 10 anos antes, quando, então, se separaram e ficaram apenas como amigos.
  • Na apresentação do Queen no Rock in Rio, o Freddie aparece no filme usando um colant brilhante, estilo que usava nos anos 1970, diferente do que ele usou de fato no festival. Embora possa estar sendo crítico chato, acho que, do mesmo jeito que reproduziram fielmente a vestimenta do Queen no Live Aid, não custava ser fiel também no caso do Rock in Rio, que é um momento tão reconhecido do Queen.
  • No filme, nas discussões da banda sobre se apresentar ou não do Live Aid, supostamente há uma exigência dos outros membros da banda em relação ao Freddie para que todas as músicas do grupo passassem a ser assinadas como de autoria dos 4, ao invés do autor efetivo. Na verdade, a banda realmente adotou essa política, mas apenas a partir do álbum The Miracle, de 1989, cinco anos após o Live Aid. E foi uma decisão da banda, não uma demanda de alguns contra outros. Segundo a própria banda afirmou depois, se soubessem o quanto essa política teria evitado de brigas dentro da banda por cada um querer que sua composição fosse lançada como single (e, com isso, ganhar mais direitos autorais), a teriam adotado muito antes na carreira.
  • O Freddie não conheceu o Jim Hutton na sua festa de aniversário apresentada no filme (que foi a real festa de 39 anos, realizada em Munique, na boate Old Mrs. Henderson, atualmente chamada Paradiso). Na verdade, na época, eles já eram namorados (tanto que o Jim estava na festa, retratada no vídeo da música solo do Freddie “Living On My Own”).

Tem alguns fatos no filme, entretanto, que realmente são ficção e que nunca ocorreram (ao menos pelo que lembro de tudo que já li da

  • John Reid, o produtor do Queen na época do lançamento de Bohemian Rhapsody, não foi despedido pelo Queen, muito menos devido a alguma influência do Paul Prenter (que realmente foi sempre considerado pelos outros membros do Queen uma má influência sobre o Freddie e que realmente vendeu para tabloide sensacionalista histórias sobre a vida privada do Freddie). O John Reid, quando foi contratado pelo Queen, já trabalhava com o Elton John e vários outros artistas de renome. Quando começou a trabalhar com o Queen, assinou um contrato de 3 anos e, ao final desse período, como estava havendo conflitos dos vários clientes demandando atenção do John Reid, o Queen optou por não renovar o contrato e dispensá-lo, passando a tarefa de manager para o Jim Beach (lembrado pelo apelido “Miami”, no filme :D), que já atuava como advogado da banda. Aliás, o John Reid também não foi o primeiro manager do Queen. Ele só assumiu o Queen depois que a banda rompeu com o Norman Sheffield, que estava ganhando muito dinheiro com a banda, enquanto os integrantes mesmo do Queen estavam vivendo uma vida simples. Não é à toa que o Freddie compôs a música Death On Two Legs para o Norman Sheffield, motivo pelo qual o título tem o “Dedicated to…”.
  • O Freddie nunca levou o Jim Hutton na casa dos pais, nem para apresentá-lo como amigo. Na verdade, o Freddie nunca assumiu sua homossexualidade para os pais. Quando estes iam visitá-lo em sua casa no Garden Lodge, Jim Hutton era apresentado oficialmente como o jardineiro da casa, nunca como namorado.
  • O Freddie nunca falou abertamente para os demais membros do Queen que estava com AIDS, muito menos antes do Live Aid. Na verdade, apenas mais para o final de sua vida, o Freddie chamou os três e apenas disse que eles sabiam o que estava acontecendo e que não queria falar sobre isso. Apenas pediu para que eles dessem o máximo de músicas para o Freddie cantar enquanto pudesse.

Pra ser bem chato mesmo, um detalhe de cena que achei desnecessário foram uns três dois takes na apresentação do Live Aid em que aparece o Freddie (Malek) de frente tocando piano em We Are the Champions, em que, para o piano aparecer na cena, colocaram ele meio que na altura do peito do Freddie, o que ficou bem estranho de se ver.

Pra ser mais chato ainda, um detalhe errado foi quando, na apresentação do Live Aid, o Ben Hardy roda as duas baquetas na mão ao mesmo tempo, coisa que o Roger nunca fez (sempre rodou somente na mão direita).

Enfim, são apenas alguns comentários, mais para que a história do filme não seja levada totalmente ao pé da letra como sendo tudo exatamente como aconteceu. E tudo é aceitável, considerando a riqueza da história do Queen e a necessidade de contar isso em 2 horas e 15 minutos de filme. Na verdade, a história do Queen teria que fazer uma série, com 20 episódios de uma hora em cada temporada, e com pelo menos 10 anos de série… 😀

Se alguém tiver qualquer comentário ou dúvida, pode perguntar que eu respondo o que souber e puder 🙂

God save the Queen & Freddie Mercury

8 comentários

  1. Rodrigo Guimarães · novembro 8, 2018

    Adoro a história de Death On Two Legs

    Curtido por 2 pessoas

  2. Adriana Chaves · novembro 8, 2018

    Amigooooo. Eu não poderia ver o filme antes de saber sua opinião. Agora eu verei. Beijo nas crianças 😘

    Curtido por 1 pessoa

  3. Kátia · novembro 11, 2018

    Muito bom teu comentário!
    É legal saber esses outros detalhes a respeito da história e de como foram conduzidos no filme principalmente por saber que vem de alguem que é tão fã e conhece tanto banda!

    Curtido por 1 pessoa

  4. Pedro Espilotro · novembro 12, 2018

    Muito bom seu texto! Tem um detalhe que me incomodou bastante: eles tocarem “Fat Bottomed Girls” em 1974, sendo que ela foi lançada só em 1978.
    Eu entendi que, por essa música estar muito ligada à cultura americana, eles quiserem encaixar no roteiro, por estarem falando da 1ª tour norte-americana. Mas ficou bem estranho hahaha

    Curtido por 1 pessoa

    • Kiko / Marcos Imamura · novembro 12, 2018

      Pedro, super obrigado pelo comentário e pelo elogio. Concordo com você. Fat Bottomed Girls logo no início ficou bem fora da cronologia. Junto com isso, vem “Rio” aparecendo no meio dos lugares onde estariam fazendo shows, totalmente fora da ordem também! Além disso, tem o Freddie de cabelo curto e bigode na gravação de We Will Rock you e, pelo inverso, ele sem bigode e de cabelo comprido no show do Rock in Rio…. Bem estranho, como vc disse 🙂 Abraços!

      Curtir

Deixe um comentário