Música, morte e vida (Zach Sobiech)

Embora sempre fale de música aqui, o post de hoje de certo modo retoma o ponto central da minha ideia de criar esse blog, que é falar da relação entre música e sentimento. E foi totalmente por acaso que caí nesse tema.

Outro dia, se não me engano por meio de um post da minha queridíssima Zooey Deschanel, ouvi falar de uma garota que estava bombando na internet por ter uma voz natural que parecia ter autotune (pra quem não conhece, Autotune é um programa de computador utilizado, inclusive por vários artistas famosos, para corrigir a afinação da voz – veja https://www.youtube.com/watch?v=64iv40rqDf4). Na curiosidade, fui ver o vídeo da garota e realmente é interessantíssimo. Apesar de ser voz natural, ela canta com uma clareza na afinação e com um jeito nas mudanças de tom que realmente parece que tem um autotune de fábrica na voz dela. Essa garota se chama Emma Robinson, tem só 18 anos, muito bonitinha, toca piano e ukelele (pouco mas suficiente, pelo jeito), mas, além de cantar bem, ainda tem um ótimo gosto musical.

Assim, depois de ver o primeiro vídeo que mostrava que a voz dela parecia ter autotune, fui vendo outros vídeos, pra reparar mais nesse “efeito” da voz dela. Nisso, caí em um vídeo que amei a música e o jeito que ela a cantava. A música era “Clouds”, de Zach Sobiech. Gostei tanto que fiquei ouvindo várias vezes e até postei o vídeo no facebook comentando da voz “autotune” dela.

Depois de ouvir várias vezes a música, me bateu a curiosidade de ouvir a versão original, do tal Zach Sobiech, que nunca tinha ouvido falar. Quando começo a ver o vídeo é que descubro a história dele e da música. Não sei se eu estava muito por fora do mundo e se isso é algo conhecido de todos ou não. Fato é que eu não conhecia. Pra esclarecer, caso alguém mais esteja na mesma situação que eu estava, quando o Zach estava com 14 anos, foi diagnosticado com osteosarcoma, um câncer nos ossos raro e grave. Em maio de 2012, com 17 anos, os médicos informaram que ele viveria por no máximo mais um ano. No final daquele ano, Zach gravou a música “Clouds”, que gostei tanto na voz da Emma Robinson (aliás, só depois percebi que a Emma falava do caso do Zach na descrição do vídeo).

Pra variar, aí é que fui prestar atenção na letra da música e só então percebi que, mais do que uma linda canção, a música é uma incrível mensagem positiva de superação e despedida. Depois do abismo em que caiu com a notícia da doença, a superação por ter pessoas pra cuidar dele (“I fell down […] Into this dark and lonely hole. There was no one there to care about me anymore. And I needed a way to climb and grab a hold of the edge. You were sitting there holding a rope”).

Então vem a percepção de que a partida não tardará (“And we’ll go up […], but I’ll fly a little higher. We’ll go up in the clouds, because the view is a little nicer. Up here, my dear, it won’t be long now”). Por fim, a vontade de ter mais tempo, sabendo que isso não é possível (“If only I had a little bit more time with you”),  e a esperança de um dia reencontrar aqueles que ficaram e tudo ficar bem (“And maybe someday I’ll see you again. We’ll float up in the clouds and we’ll never see the end”).

Infelizmente eu só conheci a história do Zach agora, mas o fato é que, quando Clouds foi lançada, a história dele ficou conhecida e o vídeo e a música fizeram bastante sucesso. Isso foi ótimo, porque rendeu ao Zach reconhecimento em vida pelo seu talento e pela sua luta. Mas, como previsto pelos médicos, o Zach “foi pra cima”, como ele cantou, em 20 de maio de 2013. Deixou pra nós, entretanto, sua música, sua história, sua luta e sua lição.

Como eu fui tocado por tudo isso, pesquisei e descobri um documentário feito justamente após ele ficar famoso pelo vídeo no Youtube. O vídeo conta um pouco da história e é emocionante demais, porque entrevista ele, pais, irmãos, irmãs (uma bela família), namorada, amigos, todos sabendo que o Zach logo estaria nas nuvens. Difícil não chorar. Fizeram, também, um documentário um ano após a morte do Zach, que também vale a pena assistir.

Fico realmente impressionado com a capacidade de continuar alegre, vivendo a vida da forma mais normal possível, apesar de saber o que iria acontecer, e ainda conseguir colocar todos esses sentimentos em uma linda música. Fiquei pensando em como seria se me dessem o mesmo prazo que deram pro Zach. O que eu faria? Como isso me afetaria? Conclusão óbvia: a gente tem mania de reclamar de barriga cheia. Achamos que nossos problemas são um monstro, insuperáveis, que não merecemos tanto sofrimento, até levar um tapa na cara com uma história como essa e ver que tem tanta gente em situação muito mais difícil e, nem por isso, deixando de enfrentar tudo com um sorriso no rosto. Como disse o Zach no documentário que citei: “você não precisa descobrir que está morrendo pra começar a viver”.

Pra quem se quiser ver tudo que comentei aqui, aí vão os links para o vídeo oficial de Clouds, o vídeo da versão da Emma Robinson e os documentários sobre a vida e a morte de Zach Sobiech.

Clouds, por Zach Sobiech

Clouds, por Emma Robinson

My Last Days: Meet Zach Sobiech

My Last Days: Zach Sobiech, One Year Later

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