Quando coloquei como subtítulo deste blog “música e sentimento”, não foi por acaso. A música tem um poder único sobre nós, de transmitir emoções e sentimentos, de intensificar o que sentimos ou mesmo de mudar nosso humor, para o bem ou para o mal. E, mais ainda, um ponto fundamental pra mim é que essa capacidade independe da comunicação textual, da letra da música.
Essa discussão da relação entre a linguagem e a música é uma das questões levantadas logo no início de um livro excepcional, que me marcou demais, e que recomendo a todos, chamado Alucinações Musicais (www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12286). O livro foi escrito pelo neurologista Oliver Sacks, que muitos vão se lembrar pelo filme “Tempo de Despertar”, com Robert de Niro (o Oliver Sacks é o médico da vida real retratado no filme). Esse livro trata basicamente da relação entre o cérebro e a música, analisando diversos casos clínicos interessantíssimos (tipo, um cara que se acidentou e, do nada, começou a tocar piano, a relação entre a música e autistas, os casos de pessoas que veem cores distintas conforme a nota musical que ouve).
Mas, independentemente dos casos analisados, a questão primordial levantada pelo livro é justamente por que e como a música consegue fazer a gente sorrir ou chorar, mesmo sem uma letra. É claro que nós nos identificamos e somos tocados pelas letras das músicas, sejam românticas, explosivas, filosóficas, de contestação. Mas, mais do que as letras, o que mexe comigo é a música, o som, a melodia. Eu até me cobro muito pelo fato de que tenho dificuldade em reparar nas letras das músicas, porque a melodia e o arranjo me chamam muito mais a atenção. É essa relação entre música e o que sentimos que pra mim é algo mágico.
E é por essa relação que a música tem essa capacidade de transformar nossa vida. Nesse final de semana, por coincidência, acabei assistindo a um documentário que queria ver há tempos, mas acabei vendo só agora porque descobri que tem no Netflix 🙂 O documentário se chama “Alive Inside” e fala sobre o trabalho desenvolvido por algumas pessoas no sentido de tratar idosos e pessoas com Alzheimer, demência ou mesmo com dificuldades pela idade avançada por meio da música individualizada. Uma das coisas que se menciona no documentário é que, incrivelmente, as partes do cérebro onde ficam registradas as memórias musicais são as menos afetadas ou afetadas mais tardiamente pelo Alzheimer, por exemplo. Com isso, a música demonstra o poder de trazer de volta à tona uma vida perdida dentro dessas pessoas. Pra entender melhor, basta ver esse trailer do documentário:
Mas, recomendo assistir ao documentário na íntegra. Pra quem não tem Netflix, tem no Youtube:
Minha mãe, por exemplo, mesmo já bastante debilitada, vendo os musicais que ela gostava, falava o que estava tocando ou acabava cantando algo, como “Over the Rainbow” quando a gente colocava O Mágico de Oz.
No meu caso, então, quando estiver velhinho, com Alzheimer ou com qualquer dificuldade, pode colocar Queen pra eu ouvir. Acho que eu saio até do coma!