The Voice e afins: o que eu espero

Eu sou fã de programas que buscam novos talentos na música. Lembro da minha curtição na época dos festivais (MPB 80, MPB Shell), com tanta coisa boa que surgiu ou despontou ali (Oswaldo Montenegro, Eduardo Dusek, Jessé, Guilherme Arantes) e mesmo depois, com o Festival dos Festivais (da  marcante Tetê Espíndola). Isso sem falar, claro, nos festivais mais antigos, da Record, com Chico Buarque, MPB-4, Jair Rodrigues, Mutantes, Nara Leão e tantos outros. Mas, infelizmente, parece que essa época passou e, o que temos agora, são os programas como o The Voice, American Idol, X Factor, Superstar.

Desses programas, abomino o Superstar. Um programa que, de diferencial em relação aos outros concursos de talentos foca justamente em bandas, mais que artistas solo, ter as bandas se apresentando com playback é, pra mim, tirar toda sua essência logo de cara, no mínimo.

O American Idol sempre me soou muito como Programa do Chacrinha, muitas vezes valorizando mais a ridicularização de quem levava abacaxi ao invés de ir para o trono. Não que não possa sair coisa boa dali. Gosto de músicas da Kelly Clarkson, por exemplo, sem contar o Adam Lambert, que conseguiu me convencer ser um bom vocalista para cantar com o Queen, e que, na verdade, nem ganhou, mas ficou em segundo lugar no programa.

O X Factor, apesar de nunca ter tido sua versão no Brasil (parece que vai ter esse ano), me parece igual ao American Idol, um pouco menos pastelão. No X Factor surgiram pelo menos duas cantoras que gosto, e que foram eliminadas do programa: a Bea Miller e, principalmente, a Leire Martinez, vocalista da minha querida La Oreja de Van Gogh.

Enfim, ultimamente, o único programa que ainda me atrai é o The Voice. Gosto da ideia original de escolher os candidatos apenas pela voz, sem misturar com o visual. Não concordo com as críticas do Brian May de que seria falta de respeito os técnicos ficarem de costas para os artistas que se apresentam ali (na verdade, tenho pra mim que as críticas são birra do Brian porque a protegida dele, a Kerry Ellis, foi no The Voice do Reino Unido e ninguém virou a cadeira pra ela). Como o objetivo do programa não é descobrir novos compositores, novos instrumentistas, mas apenas novos cantores, faz sentido que a escolha seja exclusivamente pela voz.

Mas, apesar de gostar do programa, continuo me sentindo sempre frustrado com os participantes que são escolhidos. Não sei se estou pedindo demais, mas fico acompanhando a fase de audições esperando que apareça realmente uma voz diferente, um timbre especial, uma forma de cantar com personalidade, nesse mar de cantores com vozes e timbres pasteurizados. Você ouve o artista cantando e associa de imediato a algum outro cantor ou cantora já conhecido. Parece que é tudo mais do mesmo.

Como às vezes parece difícil as pessoas visualizarem essa minha crítica e o que eu espero, fiz um videozinho só com pequenos trechos de músicas com vozes de artistas conhecidos que têm esse algo especial, diferente, único, que os tornam facilmente reconhecíveis. Escolhi trechos de músicas menos conhecidas, justamente pra tentar mostrar que o que faz as pessoas os reconhecerem é a voz, não a música que estão cantando. Mesmo se alguém não reconhecer alguma voz, estou certo que vai perceber que é uma voz marcante, com personalidade. A lista com os nomes dos donos das vozes está no final do vídeo:

Só pra confirmar que encontrar vozes assim é possível, tem duas cantoras que surgiram nesses programas de talentos no Brasil e que, pra mim, têm vozes que se encaixam nesse perfil de ser especial: a Roberta Sá e a Ju Moraes.

A Roberta Sá eu me apaixonei de cara quando a ouvi no saudoso Fama, que continua sendo, pra mim, o melhor programa de talentos de música que já houve na TV brasileira, justamente porque valorizava o músico como um todo, não apenas o cantor. Torcia pela Roberta, mas, pra variar, assim que a escolha passou a ser do público, ela foi eliminada do programa. Mas fico feliz que tenha estabelecido sua carreira. É só ouvir a voz dela pra entender o que falo:

A Ju Moraes continua sendo, pra mim, o que de melhor saiu do The Voice até agora. Me apaixonei pela voz dela já na audição, quando ela cantou Amado, da Vanessa da Mata. Timbre lindo de voz, sem contar a presença de palco e, de quebra, ser linda. Como a Roberta Sá, também é do samba, e é mais uma que venho acompanhando a carreira, porque vale a pena. E nada melhor do que o áudio da própria audição da Ju no The Voice pra entender o que é a voz dela:

Agora é esperar a próxima edição do The Voice e torcer pra aparecer alguma voz especial…

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